A história do homem parte três.
Esta é a nossa nova família, descendentes diretos de
nossos árabes, dos pântanos do Golfo, entrando nos pântanos desconhecidos da
Alemanha. Mas a terra em que estão entrando não esta vazia. Outros estiveram lá
antes deles. O Neanderthal tinha sido mestre da Europa durante 250 mil anos.
Em 1856, no vale do Neander, na Alemanha, pedreiros
estavam cavando na lama de um sítio recém explodido quando descobriram algumas
costelas, partes de uma pélvis, alguns ossos do braço e ombro de um grande
animal de aparência humana. Eles pensaram ser esqueleto de um urso.
Os cientistas mais tarde acreditaram que era um antigo
selvagem do Norte que aterrorizava os exércitos humanos.
O profissão Karl (inint) é um expert no Neanderthal e
seu mundo.
“Esse povo ficou conhecido como Neandertal. Eles se
tornaram o centro do debate da evolução humana, sobre a possibilidade desse
povo ter sido nosso ancestral ou eles terem representado uma estranha vinheta
da evolução humana. Tenho aqui um crânio mais completo que foi achado no Valde
de Neander na Alemanha. Este foi encontrado no começo do século passado, na
França. Ele nos mostra a aparência do Neandertal na cabeça e na face. Há uma
sombrancelha forte sobre as órbitas oculares. Toda face é puxada para a frente
e há um nariz enorme. Não há queixo na mandíbula inferior. E agora achamos que
os homens de Neandertal deviam ser adaptados ao frio. Eles evoluíram durante
centenas de milhares de anos na Europa, sob condições mais frias do que as dos
dias de hoje. E a forma do seu físico eram pequenos e troncudos e tinham muita
força física. Esse nariz pode até fazer parte do mecanismo de respirar ar frio
e seco. Muitas vezes eles são considerados brutamontes e sem inteligência, mas
certamente não eram, eram totalmente humanos, seus cérebros eram tão grandes
quanto os nossos. Acho que era uma espécie diferente da nossa, que era uma
espécie muito parecida, uma espécie irmã que tinha ancestrais comum a nos, talvez
há meio milhão de anos. Então, nessa base, o Neandertal era meio humanos. Eles
estão dez vezes mais próximos de nós do que os chimpanzés.”
Se eles procriaram com os humanos modernos, seus genes
desapareceram. Não há traço deles no nosso mundo.
Dez mil anos depois de nós, os Neandertais estavam
extintos. Os humanos modernos eliminariam qualquer espaço de seus rivais e
preencheriam o espaço que eles deixaram para trás. A razão para esse desaparecimento
não é clara. Eles viveram juntos com o homem moderno por milhares de anos. Mas
no final não devem ter se adaptado com rapidez ao mundo novo e seus rivais
cheios de recursos.
Eles usavam seus corpos para se relacionarem com a
natureza e os humanos modernos usavam o cérebro.
Os humanos modernos partiram para o vazio do Oriente
Médio, e pela Rússia, se espalhando pela Europa.
Os cientistas acham que com esses homens vieram quatro
linhagens de DNA mitocondriais, quatro netas de nossa Eva saída da África. Eles
chegaram entre 45 e 10 mil anos atrás. Os europeus mais modernos podem traçar a
sua linhagem até eles.
A tecnologia do Neandertal pouco havia mudado em 200 mil
anos. Assim que os humanos modernos chegaram, toda uma gama de ferramentas
diferentes apareceram de repente, assim como as ornamentações.
Os arqueólogos consideram esses ornamentos como uma
marca definitiva dos humanos modernos, e o primeiro interesse por ornamentos
durante os 5 milhões de anos de evolução.
“Aqui eu tenho um dente furado de um texugo, da cabana
do Kent. E isso deve ter sido parte de um colar usado por alguém. E aqui um
objetivo muito estranho que nem nós sabemos o que é. Pode ser a representação
de uma coruja ou de um gato. E aqui a mais famosa das estatuetas da República
Checa, feita de barro cozido com 27 mil anos de idade. Tinha um sítio de Dolní
Vêstonice. É uma linda peça de artesanato. Muitos desses objetos são pontudos
na base como se tivessem sido fixados no chão. Alguns deles estão cobertos de
ocre e alguns deles foram certamente polidos pelo uso talvez de muitas gerações.
Então esses objetos eram valiosos e venerados e é óbvio que tem um significado
ritual e simbólico para o seu povo, talvez um significado religioso. E aqui, uma
das peças de arte mais delicadas, e isto foi esculpido num material muito
difícil de trabalhar. Veio de um sítio francês, é uma representação muito
bonita de uma cabeça de um guerreiro, parece ser uma mulher de cabelo comprido
ou um chapeu de tecido. Este realmente é um trabalho muito delicado e bonito. É
difícil dizer por essas representações se elas são representação de pessoas
reais ou se elas são de alguma forma idealizadas para representar alguma forma
de beleza ideal. Em alguns casos eu acho que nosso dados nos permitem sugerir
que foram baseados em pessoas reais. Outra coisa que encontramos com esse povo
moderno da Europa é a chegada da evidência de roupas. Aqui está uma das
evidências mais diretas, o fato de termos uma agulha de osso aqui. Então essas
pessoas estavam costurando panos, costurando peles, com evidência de estarem
tecendo panos. Então este é um outro nível de complexidade que daria a eles uma
escala maior de adaptação ao clima. Por exemplo, é claro, maiores oportunidade
de expressão pessoal, em coisas como a moda, que viria a se desenvolver, e vemos
isso dentro de alguns sepulcros, e as pessoas foram enterradas com trajes, que
em alguns casos foram cobertas com milhares de contas. E cada uma dessas contas
representam horas e horas de trabalho, então temos uma evidência de uma riqueza
real e uma complexidade de vida que não encontramos com um Neandertal. Temos
aqui o entalhe de um mamute, numa presa de mamute de um sítio francês que tem
15 mil anos de idade. Mas essas pessoas, os primeiros povos modernos, os
cromagnon, não só entalhavam pedaços de ossos e presas. Eles também esculpiam e
entalhavam e faziam modelos de barros. E é claro, eles pintavam as paredes de
suas cavernas, e essa artigo tem pelo menos 35 mil anos. Eles representavam uma
grande variedade de coisas, muitas vezes os animais que caçavam. E em alguns
casos animais perigosos como leões e rinocerontes peludos. E em alguns casos
nem reconhecemos as criaturas representadas. As criaturas parecem ser símbolos
mágicos, criaturas imaginárias. E é possível que fossem utilizadas em
cerimônias e ritos de iniciação. E possívelmente algumas delas tenham sido
criados em um estado de transe, por xamãs ou mágicos.”
Humanos modernos foram mais longe possível através dos
anos.
Atrás de nós deixamos claras pegadas genéticas que levam
a aquela que saiu da África há 80 mil anos. O mundo está resfriando de novo. Quando
a nova Era Glacial começou, os humanos modernos tinham encontrado um lugar para
morar a 16 mil quilômetros, do outro lado do mundo, e 6 mil anos depois, a
invasão do Novo Mundo iria começar.
Nossa linhagem genética está agora espalhada em todas as
direções. Da saída da África até a última fronteira remanescente da América, agora
estamos caminhando para o Norte da Índia e Sudeste Asiático e China e a Leste das
estepes mongois na Sibéria, convergindo para o Estreito de Bering, aquela
frágil faixa de terra que une a Ásia à América.
A América é um quebra-cabeças pré-histórico. Por muito
tempo os arqueólogos insistiam que ninguém tinha chegado até a América há 15
mil anos. Mas novas informações da trilha genética do DNA mostra nossos
ancestrais americanos cruzando as terras de Bering, as pontes da Ásia, de 25 a
20 mil anos atrás. Esta é a última grande viagem para povoar o mundo, e todas
as linhagens genéticas levam a um objetivo.
Estes são os primeiros americanos.
Há 25 mil anos, o mundo estava entrando numa das piores
eras glaciais que tivemos de enfrentar. Em certos lugares o gelo tinha 5
quilômetros de espessura. Mas com o gelo que se fechava, surgia a última possibilidade
de movimento, antes que ele bloqueasse a terra do Estreito de Bering até o
Alaska, e o resto da América do Norte. Levaria mais 8 mil anos antes que se
abrisse de novo.
“A razão pela qual sabemos que esses primeiros
americanos chegaram, há 20 mil anos, é o fato de sabermos que tipo de
fundadores mitocondriais eles trouxeram com eles da Ásia. Temos tipos na Ásia
que são similares aos tipos americanos e portanto sabemos que tipos vieram para
a América em oposição a aqueles que deveriam ter chegado à América. Então na
média, os fundadores da América acumularam uma mutação. E já que conhecemos o
índice de mutação de nosso sistema genético, a mitocôndria, é uma mutação para
cada 20 mil anos. E nós sabemos que esses sistemas fundadores tenham evoluído
na América há 20 mil anos, quando eles devem ter chegado”.
Na América do Norte, o grande lençol de gelo lauretiar, encobria
as planícies centrais, destruía tudo por seu caminho, forçando nossos migrantes
da costa Oeste para América do Sul. Se o gelo retrocedesse, poderíamos nos
espalhar de novo pela terra liberada. Há evidências de povoamento no abrigo de
pedra, no rio Ohio na Pensilvânia chamado Medal Croft.
“Medal Croft é muito importante para a história
americana, porque data de 16 mil anos de acordo com as nossas pesquisas. E é
por isso um dos primeiros sítios de americanos nativos a serem creditadas pelas
autoridades, e combinam com as estimativas genéticas porque devem ter vindo
vários milhares de anos antes disso, para poderem ter estado em Medal Croft. “
O doutor James (inint) levou um grupo de cientistas para
o abrigo escavado.
“Quando encontramos, nós supusemos que não ia conter
nenhum material cultural. Mas no final das contas havia uma variedade de
artefatos e outras indicações da presença humana, muitos milhares de anos antes
da estimativa para a época máxima da chegada de pessoas ao Mundo Novo. Espalhados
por esta superfície e em ocupações mais profundas dentro e em torno dessas
fogueiras, estão uma série de artefatos. Entre os mais notáveis estão
fragmentos de lâminas como estes, e lâminas que foram quebradas destes
fragmentos. O que é especial sobre esses itens é que eles foram manufaturados
na maior parte por grupos paleoindígenas posteriores das Américas e tem uma
semelhança impressionante com lâminas da China do Norte que tem entre 28 e 29
mil anos de idade. Moldes desses materiais podem estar perdidos em coleções da
China e você não saberia diferenciá-los. O que as evidências de Medal Croft nos
sugere é que junto com os dados das séries de sítios emergentes na América do
Norte, não houve uma única migração de seres humanos para o Novo Mundo, como
vinha sendo postulado nas últimas décadas, mas em vez disso, uma série de
culturas e emanações “.
Assim, múltiplas entradas são agora estabelecidas como
padrão para a migração americana. Os primeiros colonos traziam muitas linhagens
genéticas. Eles vinham da Sibéria, China, Ásia Central e mais ao Sul, como
Malásia e Japão.
Em 1996, um esqueleto conhecido como “o Homem de
Kennewick” foi descoberto no rio Columbia no Estado de Washington. Quando foi
levado para (Chim Charter), o antropólogo forense, ele primeiro acreditou que
os restos eram de um pioneiro do século 19. Ficou surpreso quando a datação de
carbono-radioativo revelou que ele tinha 9 mil e 500 anos de idade, era o
esqueleto mais antigo já encontrado na América do Norte.
Mas o que realmente intrigou Charters, foi que apesar de
sua idade, o Homem de Kennewick não se parecia com os americanos nativos
modernos. O seu crânio era caucasoide e não mongol, e a reconstrução de seu
rosto mostrou distintas similaridades com os ainu, que viveram no Norte do
Japão.
“O homem de Kennewick era um indivíduo muito machucado
com múltiplas fraturas na costela e também no braço esquerdo ferido. E tinha
ferimentos no crânio, tinha artrite no pescoço, nos joelhos e nos cotovelos. Ele
já havia sofrido um bocado. Mas o que era mais distinto sobre ele, o ferimento
mais interessante, eu acho, do ponto de vista forense, era uma ponta de lança
encravada na pélvis. Na verdade, foi isso que nos levou a datar os ossos por
carbono radioativo. E o que pode ser visto é uma janela ovoide de cada lado do
osso. Mas quando escaneamos, vemos que tem uma lâmina serrilhada de 5
centímetros de comprimento, 2 e meio de largura e meio de grossura.
“O que é interessante para essa ponta de lança é que tem
um estilo que vemos somente após a morte desse homem no Estado de Washington. Podemos
ver esse estilo se movendo pela costa da Columbia britânica, chegando em
Washington há mais ou menos 10 mil anos, ou até 9 mil anos, e isso em anos de
carbono radioativo. As pessoas que usavam essas pontas de lança, as que tinham
esse estilo de ponta de lança numa época posterior são muito similares aos
índios americanos modernos.
“Você pode confundir um crânio de um índio americano
facilmente no meio da multidão. Então o que parece é que nós temos uma nova
população que vem chegando com características do Nordesteda Sibéria e
começando a substituir os imigrantes que chegaram antes. O que isso sugere de
uma maneira mais ampla é que havia algum tipo de conflito acontecendo. Seria um
conflito pessoal, alguém estava com raiva dele por causa de uma banalidade? Ou
seria um conflito por causa de territórios entre populações rivais que tinham
acabado de entrar em contato uma com a outra? E o fato de ocorrer a época de
chegado das novas populações e o fato do Homem de Kennewick ter aparência
diferente das novas populações, ambos sugerem que há uma rivalidade que está
ocorrendo por causa de território.
“Então pelo ângulo de entrada da ponta de lança, fica
bem claro que ela estava indo direito para ele, e ele podia vê-lá chegando.
O professor Charles acredita que o Homem de Kennewick
tenha morrido de hipotermia e afogado. E desde a morte do Homem de Kennewick, a
população do humano moderno cresceu de milhares para milhões.
E nós avançamos de caçadores e coletores primitivos para
fazendeiros e comerciantes, povo do vilarejo e de gente da cidade, e de
domínios tribais para impérios.
Em cinco mil gerações nós chegamos ao mundo que
conhecemos hoje.
Desde os anos 80, amostras de DNA foram tiradas de
milhares de pessoas de todo o mundo, do Alasca até a Nova Zelândia, dos Inuits
até os islandeses. Analisando-as, os cientistas podem traçar as similaridades entre
os códigos pessoais e ver que povos são os parentes mais próximos. Todos os
indivíduos podem checar o seu DNA mitocondrial e traçar as rotas que seus
ancestrais tomaram pelo mundo, da África até cada canto do mundo.
Em Chicago tomamos cinco pessoas que estão rastreando a
sua árvore mitocondrial. Depois de analisar seus códigos de DNA, os cientistas
descobriram uma conexão extraordinária entre uma grega e um índio americano.
Angela Trakis é uma grega que veio para os EUA.
Leonard Mariteri é um índio americano, um Krieuk de sangue
puro.
São ambos do mesmo pequeno e raro ramo de nossa árvore genealógica
e compartilham um ancestral comum 30 mil anos atrás, talvez da Sibéria do Sul.
Ao povoarem o mundo vazio depois de deixarem a África, alguns humanos modernos
foram para o norte, para a Rússia central. Lá, uma filha nasceu carregando um novo
marcador ‘X’. Seus filhos se separaram e alguns foram para o Ocidente, para a
Europa, e outros foram para o Oriente, da Sibéria para a América.
Trakis e Mariteri chegaram à América de lados opostos da
Terra e agora se encontram pela primeira vez na América, a sua primeira reunião
familiar em 30 mil anos de história evolutiva.
Mariteri: “Isso me deixa... né, me deixa muito impressionado”.
Trakis: “Bem, eu acho... muito interessante termos vindo
da mesma linhagem, porque talvez assim, as pessoas parem de dar tanta
importância das diferenças e talvez comecem a falar da pessoa comum. E talvez isso
ajude as pessoas a serem mais tolerantes e amáveis. E talvez isso progrida. E seja
mais relevante não apenas para a ciência, mas para a humanidade em geral. E é disso
que precisamos hoje”.
Há 80 mil anos, um pequeno grupo de humanos modernos
enfrentaram os terrores do Mar Vermelho e deixaram a África para sempre. Eles
carregavam o futuro do mundo com eles. Há 10 mil anos, eles tinham penetrado em
cada canto do globo, a mais incrível e importante viagem que já fizemos.
Pela primeira vez sabemos quem somos.
Sabemos de onde viemos.
Sabemos que somos as mesmas pessoas que nossos
ancestrais inquietos e curiosos.
Mas chegamos ao fim de nossa migração, não há mais terras
vazias para ocupar. A ciência diz que há uma corrente contínua que nos liga ao nosso
passado e uns aos outros.
Todos compartilham a mesma herança genética de nossa Eva
ancestral.
Talvez essa seja a mais importante mensagem que devemos
carregar para o futuro.
((fim da transcrição))
Versão brasileira: Clone.